terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Saga "Crepúsculo" e livros adolescentes de vampiro dominam 2009

SÃO PAULO – Lobisomens e anjos podem estar prestes a invadir a sua vida, mas não há como negar que 2009 foi o ano dos vampiros, nas telas e nas prateleiras. A febre das criaturas sedentas de sangue começou a ganhar contornos claros por aqui com a estreia da saga "Crepúsculo" nos cinemas brasileiros, há exatamente um ano. O primeiro filme custou US$ 37 milhões e faturou US$ 385 milhões em todo o mundo, o suficiente para que a Summit Entertainment, estúdio responsável pela adaptação, produzisse a toque de caixa dois novos capítulos. O que se viu a partir daí foi uma overdose de reportagens, entrevistas e capas de revista que culminaram, no final de novembro, no segundo filme, "Lua Nova". O resultado dessa superexposição só podia ser um: sucesso.

"Lua Nova" teve a terceira melhor estreia de todos os tempos nos Estados Unidos

Em menos de um mês, "Lua Nova" arrecadou US$ 628 milhões em bilheteria e entrou para a história como a terceira melhor estreia de todos os tempos nos Estados Unidos. O evidente avanço nos efeitos especiais – fruto do orçamento vitaminado – e o início de um triângulo amoroso entre Bella (Kristen Stewart), o vampiro Edward (Robert Pattinson) e o lobisomem Jacob (Taylor Lautner) atiçou as mulheres a correrem para as salas e assistirem mais de uma vez o longa-metragem.

E aí reside parte do fascínio da série. A trama criada pela escritora Stephanie Meyer tem especial apelo para as adolescentes, que encontram uma variação romance clássico esquecido no dia-a-dia moderno. Gentil, misterioso, leal e conservador, Edward ama Bella sem limites, mas ao mesmo tempo procura nem beijá-la, receoso de que possa feri-la de alguma forma. Ele nem mostra os caninos. Sexo, então, está fora de questão. Um amor casto, idealizado, que arranca lágrimas das românticas de plantão – não por acaso, 75% do público do primeiro filme era feminino. Não é difícil prever que boa parte dessas garotas levou o namorado para ver a sequência e voilà, temos um campeão de bilheteria.

Mas não é só no cinema que "Crepúsculo" encontra seus fãs, muito pelo contrário. A quarta e última parte da série, "Amanhecer", chegou em junho às livrarias brasileiras com uma tiragem de 400 mil exemplares e desde então segue firme no pódio dos livros mais vendidos no país, acompanhada pelos outros três episódios, todos no Top 10. No total, 85 milhões de cópias da saga foram comercializadas ao redor do planeta.

E não para por aí. Mesmo com a tetralogia oficialmente encerrada, Stephanie Meyer tem mais cartas na manga para manter a franquia viva: o guia oficial da série de livros, previsto para o final de 2010, e "Sol da Meia-Noite", a primeira obra recontada do ponto de vista de Edward, embora o projeto tenha sido temporariamente interrompido porque os capítulos iniciais vazaram na internet. Sem contar a continuação nos cinemas – aguente firme que "Eclipse", a terceira parte, estreia em junho.

Sangue, suor e sexo

Se a castidade é uma das características de "Crepúsculo", o sexo ajudou a construir a fama de "True Blood", o mais bem-sucedido programa do segmento na televisão norte-americana. Baseado na série de livros "The Southern Vampire Mysteries", de Charlaine Harris, o seriado se passa no sul dos EUA, na fictícia cidade de Bons Temps, em Louisiana, e traz uma novidade: os vampiros saíram do armário e andam livremente pelas ruas.

Divulgação

O casal Anna Paquin e Stephen Moyer, garçonete e vampiro em "True Blood"

Tudo porque os japoneses criaram um sangue sintético chamado True Blood, vendido em garrafas estilosas disponíveis em qualquer posto de conveniência, que permite aos vampiros se alimentar sem sair por aí dilacerando gargantas. Na história, que já teve duas temporadas, a garçonete telepata Sookie Stackhouse (Anna Paquin, ganhadora do Globo de Ouro pelo papel) começa a se relacionar com o centenário vampiro Bill Compton (Stephen Moyer), de volta à casa de seus antepassados. O clima quente do Mississipi é cenário para muita nudez, suspense e política.

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Versão em refrigerante, 0+, de Tru Blood
Sim, política, porque um dos panos de fundo da série é a luta pelos direitos constitucionais dos vampiros, discriminados por uma parcela da sociedade e perseguidos por grupos religiosos de extrema direita, paramilitares no caso mais extremo. Os diálogos pedindo igualdade são uma alegoria evidente da causa homossexual, e não por acaso o criador e roteirista de "True Blood", Alan Ball ("A Sete Palmos"), é reconhecido como um ativista do movimento GLBT.

Isso não ofusca, no entanto, a diversão e o sucesso do programa, que driblou o marketing convencional ao lançar no mercado uma versão da bebida que lhe dá nome – "Tru Blood" é um refrigerante sabor laranja, mas vermelho, espesso e com um esclarecedor "O Positivo" estampado no rótulo. No Brasil, até agora estão disponíveis apenas os dois primeiros volumes da série de livros (que está indo para o 11º lá fora): "Morto Até o Anoitecer", da Record, e "Vampiros em Dallas", pela Arx.

Enxurrada nas livrarias

A televisão também teve este ano a estreia de outra telessérie baseada na literatura, mais uma vez pelo viés adolescente. "The Vampire Diaries" chegou em setembro à progração do canal CW e de cara conquistou a melhor audiência da rede. Na trama, o vampiro Stefan Salvatore retorna à pequena cidade de seus ancestrais e tem de enfrentar seu malévolo irmão enquanto se relaciona com a jovem Elena, ainda no colégio, idêntica a um grande amor do passado.

O seriado está nas mãos de Kevin Williamson, um dos responsáveis pela retomada do terror na década de 1990, com a trilogia "Pânico" e "Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado", além do sucesso "Dawson's Creek". Dos livros de "Vampire Diaries", escritos por L.J. Smith, dois foram lançados no mercado nacional como "Diários do Vampiro" – "O Despertar" e "O Confronto".

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O trio protagonista da série "The Vampire Diaries", série de livros que chegou ao país

Outro representante desse fenômeno editorial a respingar no Brasil é a "A Casa da Noite" ("House of Night"), que já vendeu 5,5 milhões de cópias. P.C. Cast e sua filha, Kristin Cast, a princípio pretendiam escrever nove capítulos da série, mas, graças à boa aceitação, aumentaram esse número para 12.

Os livros seguem uma garota de 16 anos que descobre ser uma vampira e passa a frequentar a Casa da Noite, escola para jovens sugadores de sangue, onde precisa se acostumar à nova realidade, seus poderes e se afastar dos antigos amigos, em um argumento que lembra bastante o Harry Potter de J.K. Rowling. "Marcada" e "Traída", os dois primeiros volumes, estão disponíveis em português pela editora Novo Século.

Por falar em Harry Potter, que conquistava fãs antes mesmo de ser traduzido, outras duas séries já vem garantindo seu nicho nos originais em inglês. Trata-se de "Vampire Kisses", de Ellen Schreiber, cujo sexto volume, "Royal Blood"; e "The Morganville Vampires", de Rachel Caine, que já tem sete livros, três deles lançados em 2009.

Nada de parar tão cedo

As prateleiras podem estar cheias, mas os cinemas ainda vão continuar recebendo em 2010 toda a influência deste momento fértil para os dentuços. O primeiro deles é o filme infanto-juvenil "Cirque du Freak: O Aprendiz de Vampiro", que estreia em 15 de janeiro. A história é baseada na série de livros "Circo dos Horrores", editada pela Rocco, e conta como um vampiro de circo (John C. Reilly) convence um garoto de 14 anos a ser seu assistente. Ainda no elenco, Salma Hayek, Ken Watanabe, Willem Dafoe e Patrick Fugit.

Outra novidade é a refilmagem do longa sueco "Deixa Ela Entrar", um dos melhores filmes do ano, que vai ganhar uma versão em Hollywood. No original, dirigido por Tomas Alfredson, um menino de 12 anos tem problemas em fazer amigos e acaba se aproximando de uma misteriosa vizinha do bairro, jovem como ele, mas uma vampira. Sem abrir mão do suspense, a produção revela, desprovida qualquer pieguice, como a relação dos dois evolui. O remake está a cargo de Matt Reeves ("Cloverfield") e deve ficar pronto até o fim de 2010.

Seguindo o caminho dos tijolos amarelos, a produtora de "Crepúsculo" vai continuar investindo no filão e pretende realizar ao longo do ano um filme de ação baseado na vida do príncipe romeno Vlad Tepes, O Empalador, que viveu no século 15 e inspirou Bram Stoker a escrever "Drácula". Segundo o autor do roteiro, Charlie Hunnam, a história deve ser mais realista, mostrando os fatos que deram origem à lenda do Conde Drácula.

O projeto mais animador, no entanto, está na oitava colaboração entre o diretor Tim Burton e o astro Johnny Depp. A dupla vai encabeçar uma adaptação do seriado "Dark Shadows", famoso na televisão norte-americana na década de 1960 ao levar para as telas um universo similar a "Além da Imaginação", mas privilegiando ambientes soturnos e criaturas como fantasmas, bruxas e lobisomens. Depp interpretará o vampiro Barnabas Collins, personagem recorrente e uma das figuras mais célebres do seriado. O início das filmagens está previsto para setembo e pode se esperar o que sempre acontece quando os dois se juntam – apuro visual, grandes interpretações e muita originalidade.

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